{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
quinta-feira, junho 30, 2005
 
[os sonhos nunca acabam II | night falls on Hoboken]

eu dantes adormecia sempre a ouvir música. tinha até dificuldade em adormecer sem música. quando não estava em casa, adormecia com phones, mesmo que me magoassem as orelhas. ainda assim era mais fácil. mas agora já não adormeço sempre com música. às vezes tenho dificuldade em escolher o que vou ouvir ao adormecer que depois não me incomode o sono. quando assim é, acabo por decidir não ouvir nada, adormecer em silêncio. é o que acontece agora muitas vezes. mas ontem, antes de apagar a luz, tirei Coltrane, e pus Yo La Tengo. night falls on Hoboken em repeat, e o leitor a tocar durante uma hora até se apagar. (é verdade, o Gustavo já mo devolveu)
enquanto não adormecia, pensei em como seria Hoboken. pensei que devia ser um suburbio americano com vivendas de madeira, jardins à frente com relva, árvores à beira da estrada. como nos filmes, mas melhor. porque nos filmes sobre esses sítios as pessoas são sempre mais ou menos estranhas, ou mesmo tresloucadas. pensei se aquela hora estaria mesmo a cair a noite em Hoboken. Era meia noite e meia e pelas minhas contas, certas ou erradas pouco importa, em Hoboken seriam mesmo horas da luz ir desaparecendo. depois acho que fui adormecendo. estava mesmo em Hoboken, passeava pelas ruas. havia cartazes colados nas paredes e em algumas árvores. anunciavam concertos dos Yo La Tengo e dos Day of the Dead. Havia outros, mas não me lembro. Na rua encontrei o João Pedro George, professor de sociologia da literatura, disse-me que ia ao concerto dos Tengo e que eu tinha tido uma granda nota na frequência. Eu disse que também ia, mas só mais tarde, só quando fosse noite. Continuei a passear pelas ruas de Hoboken enquanto o sol ia descendo. estava tudo com uma cor meio alaranjada, meio avermelhada. era bonito e a temperatura era perfeita. apareceu o João. estava com pressa e levava os pratos da bateria.
-aparece lá, xerife!
-ok! estou lá, puto!
havia um sitio onde havia morangos e pessoas que os apanhavam. era no meio das casas, como uma praça, mas com morangos. encontrei o Lee Ranaldo e a Agnese que iam para o aeroporto. iam para Lisboa.
- não fiques triste, eu volto em dezembro. vais ver como daqui a nada já cá estou outra vez. eu escrevo. até já.
depois foram. acho que o Lee a ia só por ao aeroporto porque ainda o voltei a ver. Do outro lado da rua vi o José e a Azahara, pareciam felizes e divertidos. nem sequer me viram e eu também não os chamei. entretanto fui para o concerto da banda do João. lembro-me que eles tocaram uma versão de strawberry fields forever que alternava partes muito fortes com partes muito atmosféricas. nas partes atmosféricas uma amiga do João (a amiga do pijama) distribuia morangos por toda a gente. quando o concerto acabou - era numa garagem aberta, com o palco no fundo - ainda não era noite. apareci não sei como numa festa numas águas furtadas a falar com o Lee Ranaldo. eu disse-lhe:
-eu também moro num sotão.
-mas moras aqui em Hoboken?
-ah, não pah. moro num sotão longe.
-um sotão longe... era um bom título para um livro. devias escreve-lo.
-vou pensar nisso. o que é que andas a fazer agora?
-uns concertos a solo aqui e ali, e bonecos para o contra informação. e tu?
-eu vou ver os Tengo.
com estas coisas todas cheguei atrasado ao concerto dos Yo La Tengo. já estavam na última música, night falls on Hoboken, ainda no início. quando saí era finalmente noite. eu continuei a vadiar por Hoboken e a música vinha comigo. eu continuei a sonhar noite fora, não sei se sempre nas ruas de Hoboken. Mas quando acordei, ainda tinha na cabeça as três notas da linha de baixo da canção.


Frightened faceWorried DreamBreak my heartWith your sad screamSun is downSpirits lowHate my impatienceand Here I goCome on, let's leave our miseryAnd craw toward where we want to beCan't we try? Can't we try?Come on, sleep one night peacefully


 
BLOGGERS OF THE WORLD UNITE!!!

venham ao blog. escrevam. ponham imagens. usem-no.
vai ver que não custa nada ;)

eu por mim, vou tentar. jé que não tenho tido muito assunto, vou iniciar hoje uma série de posts dedicados aos meu sonhos.
assim eu me vá lembrando deles.

quarta-feira, junho 29, 2005
 
Eu hoje sonhei com Killswitch Engage. É uma banda daquelas que vocês não apreciam. Mas não sonhei com os elementos da banda nem nada disso. No sonho apenas aparecia o nome da banda escrito num espaço negro. Acho que havia outro nome que se opunha a esta banda. Não me lembro do outro nome.
Há uma música dos killswitch Engage que eu gosto em particular: Rise Inside.
A Temple from within também tem a sua importância.

Apenas recordo isto de todo o sonho desta noite.

Assim fico a ver aviões passarem!

terça-feira, junho 28, 2005
 
[a culpa é do mark rothko]

levei a noite a sonhar. coisas estranhas. como sempre só me lembro de pormenores.
sonhei que era o advogado do josé maria martins e que ele estava preocupado porque alguém o queria matar. não tenho a certeza se era advogado, se calhar era guarda costas, ou então não era nada disto. iamos num autocarro com poucas pessoas, mas todas com aspecto muito macabro. nada tinha a ver com o caso da casa pia, mas ele veio a ser assassinado e eu passei a ser suspeito. acho que acabei por ser preso e fiquei na cela do mark rothko, que estava transformada em atlier. lembro-me que a claire fisher me foi visitar umas quantas vezes, mas eu achava que ela estava mais interessada em tirar fotografias aos reclusos e em discutir ideias com o pintor, mas até gostava. fiz uns exames na prisão e tive bons resultados porque tinha todo o tempo para estudar.
depois eu começei a engordar e a ficar desanimado. o mark rothko começou a pintar com cores cada vez mais frias, neutras e escuras. já quase não falava e estava cada vez mais magro. se calhar estava doente. a madalena apareceu quase no fim, era uma coleccionadora e comprou tudo. estava muito bem vestida, muito formal. mostrava uma compaixão muito grande, como se soubesse que ele ia morrer. eu pelo menos sabia. um dia acordei e ele estava caido no chão, esvaído em sangue com os pulsos cortados. não fiquei triste nem contente. ele não me deixava mexer nas tintas.
depois de morrer eu comecei a emagracer outra vez. fiqui com as tintas todas e comecei a pintar todas as paredes. acho que fui libertado pouco tempo depois. em breve lembro-me que estava numa casa muito grande ao pé do mar. havia um almoço, com os meus amigos reais, ao ar livre num terraço que dava para o mar. o tempo estava ameno e cristalino, sem nuvens nem a mínima névoa. havia um motivo de festa. mas não sei se era a minha liberdade mas isso também não era importante.
depois acordei.
pensei no josé maria martins e no mark rothko.
a culpa era de um deles.


Mark Rothko
Untitled, 1970


Mark Rothko
Untitled, 1969


Mark Rothko
Untitled, 1969


Mark Rothko
Untitled, 1969


Mark Rothko
Untitled, 1969

 
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

segunda-feira, junho 27, 2005
 


















A vida não é um bife.

sexta-feira, junho 24, 2005
 


STEPHEN HUTCHINGS
Towering Tree, Horizontal Version #1 (2005)
oil on canvas

 
ela
é canhota.

 
Do que eu preciso é de um homem mais velho. Um mestre. Alguém que me pudesse explicar o sentido das coisas.
Ele deveria exigir de mim trabalhos que não fizessem sentido. Eu seria impaciente e protestaria, mas fá-los-ia à mesma. E por fim, depois de muitos meses de trabalho duro, eu iria perceber que havia uma razão mais profunda por detrás de tudo, e que o mestre tinha tido desde o início um plano astucioso.
De repente eu seria capaz de perceber as grandes ligações lógicas. Ver através das coisas. Tirar conclusões sobre o mundo. Também seria capaz de me controlar e de fazer com que os outros mostrassem o seu melhor e essas coisas todas. E o mestre diria que não tinha mais nada para me ensinar e dar-me-ia alguma coisa. Uma grande prenda. Talvez um carro. E eu diria que era demais, que não podia aceitar, mas ele insistiria, e depois iríamos despedir-nos de uma maneira triste mas forte. Depois eu partia pelo mundo fora e conhecia alguém, de preferência uma rapariga, e começava uma família e talvez uma empresa que pudesse fornecer alguns bons produtos e serviços.
Era assim que devia ser. Que merda. É óbvio. Nunca devia ter sido de outra maneira.
Mas mestres desses não crescem nas árvores.
Nunca conheci um único mestre.
Tudo indica que vou ter de me aguentar sozinho.




Erlend Loe in "naif. super."

quarta-feira, junho 22, 2005
 
Pronto, agora também já sei por fotos.

 

segunda-feira, junho 20, 2005
 
Relações Frívolas


Olha, vamos fingir que não fingimos.
Tu olhas pra mim e afinal vês brilho nos meus olhos baços e eu vejo-te como uma garrafa de água num dia de calor às 3h da tarde.

Vamos fingir.
Como se eu te perguntasse onde nos podemos conhecer e tu dissesses na Estufa Fria e eu fico encantada porque assim somos feitos um pro outro porque eu também gosto tanto da Estufa Fria.

Continuamos a fingir e encontramo-nos na parte quente do jardim frio, eu de vestido e de sandálias e tu com a tua camisola de Outono tal qual como na canção e então ensaiamos planos de fuga, cheios de peripécias intensas com viagens de balão e idas à Patagónia.

Fingimos.
Deixamos as nossas mochilas carregadas de tempos difíceis num cacifo escondido, deixamo-las lá como se não fossem nossas. Tu deixas esses teus pesos, dos quais eu nem quero ouvir falar, e eu sacudo dos meus ombros os vestígios de morte e de doença que se mantêm na pele como uma caspa de medo. Tu nunca hás-de descobrir que eu sou humana e que não sei fazer sapateado.

Acabamos de fingir.
Olhamos um para o outro e vemos fantasmas, linhas de corpos desenhados no ar, despojados de tudo aquilo que nos prende ao chão da terra. E eu vejo-te e tu não és nada pra mim e tu vês que eu assim desenhada nem chego pra existir.

Mas do ponto em que começamos a fingir ao ponto em que voltamos a pesar no chão vai um metro de distância. E esses 100 centímetros chegam perfeitamente pra jogarmos à macaca até chegarmos ao céu e mandarmos depois a nossa pedra com demasiada força porque este jogo afinal já não nos interessa.

quinta-feira, junho 16, 2005
 


ROBERT MOTHERWELL
?In Yellow Ochre with Two Blues? 1968

terça-feira, junho 14, 2005
 
Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos, mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.

Eugénio de Andrade

 
méééééé...

- Eh pah. Vocês parecem uma ovelha e isto é uma cabritinha...


Foi a noite de Santo António em que me diverti mais. Da História. De sempre...

segunda-feira, junho 13, 2005
 
olhe que não, olhe que não.


sexta-feira, junho 10, 2005
 
Eh pah. Estou sem palavras. Mesmo feliz.
Sinto-me dentro dessa carrinha :)

 
Olhem, no outro dia de manhã aconteceu-me uma coisa engraçada e que ao mesmo tempo me deu alguma esperança de que quando se quer muito uma coisa tudo pode acontecer (é verdade, estou a usar uma daquelas frases feitas mas até estou a acreditar no que digo).

Não sei se vocês se lembram dos gémeos Peçonha. Uns assim sujos, cheios de rastas que apresentavam um programa na rádio a seguir à Fada do Lar e que uma vez nos deram um pontapé na porta? Também não sei se lembram ou mesmo se sabiam que o sonho da Catarina e do Alexandre (vulgo Gémeos Peçonha) era ter uma carrinha na qual pudessem percorrer toda a Europa, de tal modo que, e apesar do Alexandre ser filho de um industrial madeirense com uma casa na João XXI, decidiram ir para Inglaterra apanhar morangos durante o verão.

Pois bem. Na quarta-feira enquanto eu ia a descer a Rua da Tebaida (setúbal) para ir apanhar o autocarro eis que passa por mim uma carrinha branca - pareceu-me uma Ford Transit daquelas mais antigas e grandes - e quem ia ao volante? O Alexandre Peçonha. A gémea estava ao seu lado e quase que posso jurar que trazia um mapa na mão.

O mais giro de tudo. É que o Peçonha reconheceu-me e sorriu-me. Tinha um ar muito feliz e eu fiquei tão contente como se tivesse visto um velho amigo. Não lhe acenei mas confesso que até tive vontade.

domingo, junho 05, 2005
 
Mudança!!!
Não acho que se deva planear a mudança. Planear a mudança é como minimizá-la, tentar controlar o seu ritmo, a sua extensão... enfim o que podemos aprender com ela.
Gosto de pensar que devemos estar receptivos à mudança e simplesmente convidá-la a entrar sempre que ela bata à porta, mesmo que a casa esteja dessarrumada ou uma autêntica confusão. Quiçá ela nos dá uma mãozinha na limpeza; E antes de abalar um abraço comovente seja dado.Já Shakespeare em "Hamlet" referia que devíamos dar as boas vindas ao que é estranho.


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