{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
sexta-feira, abril 28, 2006
 
Fui ao festival-que-toda-a-gente-sabe ver o filme sobre o Leonard Cohen. Era bastante decepcionante mas valia a pena esperar outra hora e meia para O voltar a ouvir dizer, com ar cansado:

My reputation as a ladies'man was a joke. It caused me to laugh bitterly through the ten thousand nights I spent alone.

quarta-feira, abril 26, 2006
 
OS suspeitos do costume...

Às vezes é preciso viver muitos, muitos anos para poder compreender um só verso.


And though I wear a uniform I was not born to fight


Last Year's Man - Leonard Cohen

segunda-feira, abril 17, 2006
 
Apontou-me o dedo indicador e disse-me, a chorar:
- E tu, sempre negativa, sempre pessimista.
Limpou algum ranho enquanto eu baixei os olhos com alguma raiva. Odeio que me façam acusações verdadeiras. As falsas ainda vá, ainda aguento bem. Agora assim, acusarem-me de coisas graves com dedos apontados e tudo, e eu sabendo que é verdade, baixo os olhos. Ela levanta-me o queixo e não desiste de me acusar, já nem sei bem o que disse mas era uma acusação. Como se fosse culpada de achar que as coisas iam mais uma vez correr mal e não correram e agora a culpa é minha.
- Tanto sofrimento, tanto sofrimento.
E eu disse:
- Então porque é que choras?
E senti um grande vazio.
Saiu uma das maiores cabras que já tive e eu olho para as que ficam.
Nos últimos meses, tantas vezes eu pensei: isto está a encher-se de cabras e nem uma arreda pé.*

Jesus era uma cabra morta no sepulcro quando a minha homónima lá chegou e alguém lhe disse para ela não ter medo.
Mas medo de quê?

Medo de as coisas correrem bem.

Como eu ter visto dois sinais: a vizinha aqui de cima, que eu cheguei a pensar que tinha morrido, está viva e bem viva, um pouco pálida mas viva; e a veterinária a recuperar de uma doença mortal, com o seu cabelo a nascer.
E eu vi esses sinais e pensei, admirada: mas há pessoas que se curam?

Mulher porque choras, Madalena porque choras?
Põe a tocar Belle and Sebastian, ou Glenn Miller e dança. Porque consegues dançar.

Eu choro porque estou a olhar para as cabras e ainda cá estão muitas.
Não sei se consigo respirar.

Mas o irmão Roger, e lembro-me dele degolado, e ele conheceu a Adjebush na Etiópia, leprosa, abandonada pelo marido e com os filhos a morrer um a um, sem poder mendigar porque lhe foram amputadas pernas e a ela ninguém a acusa com um dedo indicador a dizer que ela é negativa e pessimista.

Madalena quando te disseram não tenhas medo, porque é que não perguntaste medo de quê?
Madalena, o que é que te assustou? Foi as coisas irem correr bem, não foi?
Foi a dona Madalena e a veterinária terem-se curado, não foi?
Foi a recordação do sofrimento não foi?
Foi porque às vezes à volta tudo é dor?

Eu quero ir contigo ao cemitério Madalena. Vamos as duas e quando nos disserem para não chorarmos e para não termos medo dizemos as duas que nunca tivemos medo, mentimos um bocadinho, fingimos que é tudo muito normal, que sempre soubemos que as pessoas se curavam, que sempre acreditamos.
E depois voltamos costas e sozinhas, quando já ninguém nos vir, fechamos a porta do nosso quarto, sentamo-nos no chão e choramos como umas Madalenas.


* A história das cabras é uma história judia que conta que uma família porque tinha muitos problemas de espaço e de dinheiro foi ter com o seu rabi para este lhes dizer o que haviam de fazer. O rabi disse-lhes para eles comprarem uma cabra e a porem dentro de casa. A família protestou, mas fez o que o rabi lhes tinha dito. Então os seus problemas aumentaram, pois gastavam muito dinheiro com a cabra, a qual ocupava imenso espaço e tornava a sua vida miserável. Foram então ter com o rabi e este disse-lhes para se livrarem da cabra. E a família assim o fez e então a sua vida melhorou muito e passaram a achar que tinham uma casa enorme.
A história é mais ou menos assim, posso estar enganada nalguns pormenores.

 
Eu consigo dançar.
Queres ver?

 
Ya No Sufro Por Amor.

sexta-feira, abril 14, 2006
 


Sevilla:
de puta madre!

quarta-feira, abril 05, 2006
 
A vida imitando a arte:


Is it too late to call this off?
We could slip away,
wouldn't that be better
Me with nothing to say,
and you in your autumn sweater

terça-feira, abril 04, 2006
 
[3358 | prenda]


 
[3357 | fim de festa]



no fim apeteceu-me voltar ao início. não era propriamente possível.

é como os beatles e o abbey road. um início depois do fim. um início antes do fim. depois da gravação do Let It Be os beatles estvam acabados. não se podiam nem ver. depois daquilo não se esperava mais nada. não sei o que é que se passou entretanto, mas um par de telefonemas entre eles e o George Martin, que também já tinha decidido ser insustentável trabalhar com eles, adiaram o inevitável. Conveceram-no de que queriam gravar um disco como no início

(Paul: just like the old days... just like we used to.
george: and john?
paul: john wants it too.)

e convenceram-se também.
não era bem a mesma coisa. diz-se que o lado A e o lado B eram uma separação entre o John e o Paul, e entre aquilo que cada um queria que fosse o disco. felizmente naquela altura os discos tinham dois lados e conciliaram-se as difrenças.
dividido ou não, o disco é bonito
e suponho que tenha valido a pena.

no fundo
foi mais ou menos o que eu fiz. juntei as peças. juntei os beatles. não ficou perfeito e até faltavam algumas peças. não estava bem como no princípio, mas estava bonito e tirei a fotografia.
suponho que tenha valido a pena.

 
3356

A Festa do Sérgio

Os Beatles iriam ficar orgulhosos da noite de ontem.


sábado, abril 01, 2006
 
3354, and counting...

O teu post m*****, por causa da parte final , lembra-me de uma história de quando era criança, uma vez que fui ao circo quando era pequena (não sei sinceramente que idade teria).
Eu e a minha irmã tínhamos apanhado boleia com uma amiga da minha mãe que conduzia um 127 (que já na altura era velhíssimo) e no caminho de regresso a casa, o carro avariou na A5. Foi por altura do Natal, era noite e estava um frio desgraçado. O carro empanou, a condutora (que era o único adulto) foi ligar para a assistência da brisa e ficámos à espera. Agora imaginem... 4 crianças: eu e a minha irmã, mais o Tiago (pouco mais velho que eu) e a Susana (pouco mais velha que a minha irmã), cheios de sono, de frio e de aborrecimento. Não sei quantas horas terão passado. Podia jurar que muitas, mas a noção de tempo das crianças é sempre muito distorcida.
Sei que depois de se acabarem as anedotas e de comearmos todos a ficar muito ensonados, o Tiago começou a cantar...

Eu vi um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Tu viste um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Ele viu um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Nós vimos um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Vós vistes um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Eles viram um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.

e quando todos pensavam que o Tiago ia parar...

Eu vejo um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.
Tu vês um sapo, com um guardanapo, estava a papar, o meu jantar.

e assim, noite dentro...

Eu vira...
Nós veremos...
Eles viam...
Tu verás...
Ele tinha visto...


um sapo com um guardanapo.
O Tiago cantou todos os tempos e modos verbais (pelo menos dos que eu conhecia na altura) seguidos e sem parar. Acho que é o mais supreendente de tudo.
Às vezes ainda conto esta história. Acho sempre que é uma das coisas mais divertidas que já ouvi. Esta maneira de enganar o tédio. Pergunto-me onde estará agora o Tiago.


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