{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
domingo, novembro 26, 2006
 
Quando cheguei lá a cima, a minha mãe estava na cozinha a fazer sandwiches de queijo fresco à moda de 1947, com morrones e sem crostas, para meter no frigorífico antes que viessem as amigas do bridge. O pai estava sentado à mesa da cozinha a ler the Vancouver Sun. Claro que eles sabiam o que tinha acontecido recentemente e por isso andavam à minha volta como quem pisa ovos. Isso fez-me sentir esquisito e visto à lupa, por isso subi para ir sentar-me no quarto de hóspedes a olhar pela janela para os V de gansos do Canadá que grasnavam a caminho do sul, dos Estados Unidos, pelo norte da Britsh Columbia. Foi apaziguador, ver tantas aves a voar - ver todas essas coisas que há no nosso mundo e podem voar.

(...) E depois de passarem os gansos eu fiquei a ver o fumo azul pairando sobre as encostas da montanha. Passado algum tempo fui para baixo, sentar-me com o pai na cozinha, junto à porta de vidro de correr, e demos de comer aos pássaros e animais no quintal. Tínhamos trigo e milho para o galinhame, verdelhões e estorninhos; e amendoins torrados para os gaiose os esuilos pretos e cinzentos. Que mar de vida! Fiquei contente com esta actividade, porque há qualquer coisa com os animais que nos tira de nós e nos leva para fora do tempo, permitindo-nos esquecer as nossas vidas. O pai tinha posto uma espiga de milho num cepo, para os estorninhos, que bicavam nela sem parar. Atirámos-lhes amendoins e eu reparei que quando deitava dois amendoins a um estorninho, ele ficava ali sem saber decidir qual era o mais suculento, paralisado pela gula e não conseguia escolher nenhum.
A mãe diz que as pessoas só se interessam pelas aves se tiverem comportamentos humanos - gula, estupidez, ira - e assim nos libertarem do terrível desgosto por sermos humanos. Ela acha que os humanos estão fartos de arcar com as culpas todas pela maldade do mundo.
Contei à mãe a minha própria teoria sobre o que nos leva a gostar de aves: que as aves são um milagre porque nos provam que há uma maneira de ser melhor, mais simples, que podemos esforçar-nos por atingir.
(...) Pus-me a pensar em todas as coisas más que me tinham acontecido recentemente na vida. Isso levou-me até às coisas más que tinha feito a outras pessoas no meu mundo, e houve muitas coisas más que eu fiz. Tive vergonha; sentia-me como se nenhuma das coisas boas que tinha feito prestasse.

(...)E na televisão havia mais pássaros! Criaturas tão encantadoras, e pensei como somos felizes por haver animais. Que acção tão boa fizemos nós um dia como humanos para merecer tanta bondade de Deus?
Num outro canal havia imagens de um zoo em Miami, Florida, que tinha sidodevastado por um furacão e viam-se patos e elegantes aves pernaltas a nadar nos destroços, só que não sabiam que eram destroços. Era só o mundo.

E depois veio outra vez a história do Super-homem ir morrer, só que vi que tinha percebido mal a cidade: ele devia morrer sobre Metropolis, não Minneapolis. Mas continuei triste. Sempre gostei da ideia de Super-homem porque sempre gostei da ideia de haver uma pessoa no mundo que não faça maldades. E de haver uma pessoa no mndo que saiba voar.

Eu própio sonho muitas vezes que estou a voar, mas não é voar como faz o Super-homem. Limito-me a puxar os braços para trás dos ombros, a planar e avanço. Não é preciso dizer que é o meu sonho favorito.

Voltando à tv, havia imagens de uns grous barulhentos numa daança de acasalamento, tão lindos e graciosos que eu pensei:"Se eu fosse ao menos um grou barulhento capaz de planar e de voar como eles, então era como estar sempre apaixonado."

A seguir fiquei mesmo cheio de solidão e tão farto das coisas más da minha vida e do mundo que disse para comigo: "Meu Deus, faz de mim um pássaro... É tudo o que sempre desejei... Um pássaro branco e ágil, livre de vergonha, de maldade e de medo da solidão, e dá-me outros pássaros brancos com quem voar, dá-me um céu tão grande e tão vasto que, se eu nunca quiser descer para a terra, não tenha que o fazer."
Mas Deus, em vez disso, deu-me estas palavras e eu digo-as aqui.


Douglas Coupland (adaptado)




Sufjan Stevens, um homem tão bonito como um pássaro branco, no concerto a que eu assisti no dia 7 de Novembro no Casino PombleNou em Barcelona , um concerto sobre pássaros, vespas, ovnis, o super-homem, o pai natal, balões, papagaios e outras coisas que voam ou podem voar.






 
I made a lot of mistakes, in my mind, in my mind...


... e não só.

quinta-feira, novembro 23, 2006
 
embora nada merecesse, três pessoas foram muito solidárias comigo hoje.
isso é uma coisa que me comove.

domingo, novembro 12, 2006
 
Ando tão insuportável que as minhas colegas despedem-se de mim e dizem: as melhoras.
Perguntam-me o que tenho, digo: ando murcha, perguntam-me se eu não sonho, eu digo: não.

E sob o meu quintal paira a ameaça de um cortador de pinheiros.
Pensar nisso é incomportavel para o meu coração.

Odeio os meus vizinhos porque têm o gado ilegal atrás do muro, trazendo um cheiro fétido e moscas gordas e sem vergonha.
Mas o meu irmão encontrou a vizinha mulher do psicopata mor e não lhe disse nada acerca do gado porque ela lhe disse ai, já não te via há tanto tempo, estás tão bonito e falou-lhe do namorado da filha que também é engenheiro civil. E como este encontro se deu no clube de video, o meu irmão ficou constragido e não trouxe nenhum filme.

Bom, e eu arrasto-me a maltratar as pessoas todas nem que seja só mentalmente.
Tenho ainda paciência para a minha familia embora a minha tia hoje também tenha ouvido das boas.

Que ninguém me toque, que ninguém me beije, porque eu não sei do que sou capaz de fazer.
Eu até já pensei será tensão pre menstrual mas não é, é mesmo uma fase de desmotivação que não me está a dar jeito nenhum.

 













Grátis com a TV Guia: a Sagrada Família em porcelana e eu - o Espírito Santo com uma máquina fotográfica.
Lisboa. 09.11.2006, 17.32

 













Preso por arames.
Lisboa. 09.11.2006, 17.24

 













Trabalho.
Lisboa, 09.11.2006, 08.47

 













Metro Marquês. Todos os dias.
Lisboa, 08.11.2006, 18.10

 













Um livro do Herberto Helder custa 0,20? mas ninguém o vai comprar porque só eu é que sei.
Lisboa, 08.11.2006, 17.53

 













Airbag.
Odivelas, 08.11.2006, 08.15

terça-feira, novembro 07, 2006
 
when i was just a youngster
this man looked down and said
he said what do you wanna be when you grow up
i just know you'll get ahead

but it didn't turned out that way
it didn't turned out that way
no matter what that old man say
it just didn't turnd out that way.

when i was a school boy
my teacher said to me
work hard do right
you can be what you want to be

but it didn't turned out that way
it didn't turned out that way
no matter what that teacher say
it just didn't turnd out that way.

segunda-feira, novembro 06, 2006
 
Amanhã vou a Barcelona.




I'd swim across lake Michigan
I'd sell my shoes
I'd give my body to be back again
In the rest of the room

To be alone with you
To be alone with you
To be alone with you
To be alone with you

You gave your body to the lonely
They took your clothes
You gave up a wife and a family
You gave your goals

To be alone with me
To be alone with me
To be alone with me
You went up on a tree

To be alone with me you went up on the tree

I'll never know the man who loved me


Não tive de atravessar a nado o lado Michigan, nem de vender os meus sapatos.
...
...
mas se fosse preciso...
...
...
...


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