{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
segunda-feira, março 31, 2008
 
E é Primavera outra vez

Pronto, sim, eu comovo-me com dias grandes e coros a vozes, afinados e melodiosos. Melosos.

Eu gosto de coisas românticas como chás e torradas e sms e mails.

Gosto que me liguem, gosto, pronto.

E de ver um rapaz a puxar uma rapariga pela mão, para entrarem a meio da carruagem do metro, que tem menos pessoas, ela de saltos altos, ele de fato, 8h da manhã.

Foge-me a boca para o começo do namoro, do Fausto, quando penso nisso, a descer o elevador para o depósito, penso em laranjas e sumaúma. Fico encostada à parede gelada do elevador, com um ar de personagem da Jane Austen, de chave na mão, a cantarolar.

Sou romântica, eu sei, é muito grave, é uma condição muito chata, que leva as pessoas a sonharem acordadas com coisas como musiquinhas da pop indie da moda ou Leonard Cohen ou os textos do Sérgio sobre a pele e os seus centímetros.

Não é que não revire os olhos e faça pff, com certas conversas, fingindo pertencer a uma classe superior, pouco afectada e nada melosa e sentimental e que não gosto nada dessas coisas do amor.

Mentira.

Sou uma tonta.

Convidem-me para dançar descalça e eu estou lá.

Frank Sinatra e um cacho de uvas? Perfeito.

Morangos no jardim? Maravilhoso.

Rãs e cigarras a fazer barulho? Esplêndido.

E que faço eu agora com tudo isto?

Enfio no baú do blog e espero que passe.


quinta-feira, março 27, 2008
 
Foi por volta dessa época que Jack começou a aparecer-lhe em sonhos, Jack como ele o vira pela primeira vez, de cabelos encaracolados e sorridente com os seus dentes espetados, a dizer que tinha de fazer alguma coisa para tomar as rédeas da sua vida, mas a lata de feijão com o cabo da colher espetado, equilibrada num tronco, também lá estava, com uma forma e umas cores chamativas de desenho animado que davam aos seus sonhos um toque de cómica obscenidade. O cabo da colher podia ser usado como um macaco de ferro. E, às vezes, ele acordava em sofrimento, outras vezes com a antiga sensação de alegria e libertação; umas vezes com a almofada molhada, outras vezes os lençóis.
Havia um espaço em aberto entre o que ele sabia e aquilo em que tentava acreditar, mas não podia fazer nada em relação a isso, e quando a gente não pode fazer nada, tem de aguentar.

Annie Proulx in Brokeback Mountain

 
Madalena tu és mesmo intuitiva.

 
[Opionion Maker]


"PS vai propor o fim do divórcio litigioso com base na culpa".

o criado de quarto continua a influenciar a evolução da sociedade portuguesa.

sábado, março 22, 2008
 

sexta-feira, março 21, 2008
 

Escolher Barrabás

Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus

Jesus respondeu: «Tu o dizes

Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu.

Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?»

Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado.

Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo.

Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» Ele sabia que o tinham entregado por inveja.

Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.»

Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus.

Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte

Eles responderam: «Barrabás!»

Pilatos disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?»

Todos responderam: «Seja crucificado

Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?»

Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!»

Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.»

E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!»

Então, soltou-lhes Barrabás.

Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.


sexta-feira, março 14, 2008
 
1979. Afinal o Patrick já não tem 21 anos.


quinta-feira, março 13, 2008
 
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz


Vinicius e Chico

terça-feira, março 11, 2008
 
Código Civil

Secção V - RESPONSABILIDADE CIVIL

Subsecção I - RESPONSABILIDADE POR FACTOS ILÍCITOS

Artº 487º (Culpa)

1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa.

2. A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso.



Pois é Madalena. Ontem a culpa foi o tema da minha aula de Teoria da Norma Jurídica. A minha professora que se chama Ana e é muito fixe, diz que está sempre por aí a ouvir muito bons juristas a confundir este conceito da culpa. Como vês, não és a única. Parece-me que estás a precisar de uma ajuda, também.

A culpa é o incumprimento de um dever de diligência.

E o que é um dever de diligência , perguntas tu? E o que é que o "bom pai de família" tem a ver contigo?
Basicamente, para um juíz avaliar se determinada pessoa tem culpa tem de se perguntar o que faria um bom pai de família (que não existe, é uma figura arquetipal da pessoa sensata, prudente, moderada, responsável), o que faria essa pessoa imaginária na mesma situação. A pessoa agiu ou não agiu como o faria o tal bom pai de família?

Eu começo a descobrir que o Direito e sobretudo a lei, podem ser coisas muito secas, tão abstractas que se tornam difíceis de compreender, mas até a lei diz que nestas coisas da culpa é preciso atender às circunstâncias de cada caso.

Para te dizer que devias deixar isso de provar as tuas culpas para os lesados ou aguentar-te com a presunção.

Não sei quem é que estás à espera que te vá julgar, mas aqui no quarto, todos sabemos que és um bom pai de família.

 
hei-de fazer de ti uma leviana sem moral, sem culpa nem escrupulos.

tenho andado a perceber que as coisas são bem mais complicadas do que parecem. entre duas pessoas, ou três, ou até mais, não há equações simples.
culpar, atribuir a culpa, aos outros ou a si mesmo, é a maneira mais imediata de lidar com a situação. não necessariamente a melhor, porque é a melhor desculpa para o miserabilismo. "ai eu sou tão bonzinho, nunca fiz nada errado e tu tratas-me desta meneira". no amor e no desamor não há cá mérito, não há cá culpa. há os correspondidos e não correspondidos. há os que correspondem e os que não correspondem. destes todos, os não correspondidos são os que estão fodidos. tenham paciencia.
sei lá. haveria tanta coisa para dizer sobre isso.
irrita-me que as pessoias achem que são sempre muito virtuosas.

ser bonzinho e virtuoso o tempo todo é chato. maça.



ou então não. sei lá eu.
nem me interessa saber.

segunda-feira, março 10, 2008
 

Como é que você lida com a culpa?

(será este mais um post merdinhas onde eu faço uma espécie de acto de contrição?)

Marco dias na agenda com iniciais, com letras ou símbolos.

Para depois ir ver datas, fazer linhas temporais na minha cabeça, perceber quantas semanas passaram, em que mês foi, o que mais fiz por esses dias.

Às vezes, imagino diálogos onde conto, com o auxílio de um lápis e de uma folha branca, a minha vida amorosa dos últimos anos.

No final desse diálogo, o meu interlocutor fica sempre desiludido, não me achava tão complicada.

Há dias fui também ver mails, mensagens, para tentar encontrar qualquer prova da minha culpa.

E encontrei várias.

Preto no branco, escrito com todas as letras.

Eu disse, eu escrevi, com clareza, que gostava.

Está lá, na data tal, no mail x e na mensagem y.

Se quiserem, podem pegar nisso tudo e incriminar-me.

Não fui tão clara assim na hora de dizer que não gostava.

Quer dizer, para ser rigorosa, eu disse.

Mas não tenho isso por escrito.

E a verdade é que também estava envolta em incerteza.

Não estava tudo claro na minha cabeça.

Mas isso não é desculpa, pois não?

E depois eu páro, fico muito triste e penso:

Mas será tudo uma questão de culpa?

Estará a questão da culpa no centro de todo este desengano?

O que é pior?

O fim de tudo ou a culpa ser minha?

A minha postura às vezes faz-me lembrar aquela personagem do Coupling, quando se está a ouvir o que cada um tem na cabeça e a dela tem: me, me, me, let’s talk about me

O meu problema é não me aceitar como sou, segundo me disse o Sérgio, e eu acho que ele tem toda a razão.

Eu deixo de gostar, com também já deixaram de gostar de mim.

Eu fico na incerteza quanto às relações, tanto me precipito para as começar como começo com dúvidas e acabo com elas.

Eu chamo-me Madalena e tenho 27 anos.


Eu queria ter um coração recto, agir na correcção, não magoar os outros.

Como se eu fosse perfeita (e nesta altura abano a cabeça, ai sou tão tontinha e ingénua).

Mas não sou.

Cometo toneladas de erros, uns estão assinalados na minha agenda, outros não.

Como é que eu lido com a culpa?

Eh pah, lido mal, na medida em que a culpa pressupõe que aconteceu alguma coisa, que eu fiz alguma coisa errada, a qual produziu efeitos negativos sobre outra pessoa.

E enquanto me massacro com a minha culpa, há outros que estão bem mais massacrados com o que aconteceu.

Não posso fazer nada.

NÃO POSSO FAZER NADA.

Posso andar com os olhos baixos e bater com a mão no peito todos os domingos, que isso não vai adiantar nada a quem magoei.

(Vocês devem estar a rir com este post, não é seus amigos da onça? Eu já vos conheço…)


sexta-feira, março 07, 2008
 
Como é que você lida com a dor?

Quando acabou o que tinha a fazer, o Dr. Rabaçal perguntou-me: "Como é que você lida com a dor?". Tentei fazer-me de forte e acho que se fosse noutra ocasião me teria saído bem. Porém, não sei se foi da anestesia mas da minha boca só saíram monossílabos e hesitações. Ainda insisti e ensaiei uma resposta convincente mas o Rabaçal já me tinha topado. Acho que os cirurgiões plásticos estão habituados a identificar o que os outros querem esconder, por isso só me disse: "Vai levar estes comprimidos. Ninguém deve ter que suportar dores, mesmo os que conseguem conviver com elas. A dor não mata mas massacra, magoa muito e deixa marcas". Não sei se foi da anestesia mas na altura achei que o Rabaçal tinha muita razão.

terça-feira, março 04, 2008
 
Eu escapei ilesa a muitas coisas a pensar que era adulta e que tinha aprendido e enrigecido até que volto a cair que nem um patinho nas armadilhas que a minha própria cabeça me cria.
E conto histórias e oiço conselhos e já nem os Smiths me valem porque ao fim destes anos todos eu descubro finalmente a coisa mais óbvia que o Morrissey não diz na canção mas que está lá toda: que o que é fodido não é ter acabado, nem a consciência disso mas aquela esperançazinha assassina que parece que nunca mais nos vai deixar sossegar. Que é como quem diz que não mata mas mói.
E é assim que eu desisto e volto a ser aberta e declaradamente merdinhas no blog. (Pelo menos por hoje...)
Se alguém conhecer um cabo verde...


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