{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
quarta-feira, abril 30, 2008
 

Sometimes you want to go
Where everybody knows your name,
and they're always glad you came.




Moro num quintal e sempre fui a que morava mais longe da escola (dentro do grupo que morava na Malveira).
Indo a pé, eu era a última, ou a primeira a sair de casa.
Não havia nada ao pé de casa. Para comprar pão (nunca comia pão do dia) era preciso ir "à Malveira".
"Ir à Malveira" significava ir ao "centro", onde havia tudo. Quer dizer, tudo se calhar não, mas havia alguma coisa.


Mas depois o meu vizinho alugou metade do seu quintal, uma parte só estavam cavalos para se construir um supermercado Plus.
Não havia nenhum tão grande na Malveira e arredores.

No dia que o Plus abriu, o Melão veio dar um concerto para a inauguração.
Já nessa altura o Melão estava numa fase descendente mas, mesmo assim, e já que era ao fundo da rua, eu passei por lá.

Até me lembro que tinha uma camisola azul com um carapuço, lembro-me porque ela tinha uma nódoa grande mesmo no peito.

Bom, com o Plus ao fundo da rua, a vida nas Trouxas mudou.

Tinhamos pão fresco todos os dias e uma loja aberta até às 21h.

Verdade seja dita, os cavalinhos também eram muito bonitos mas o Plus Superdesconto oferecia mais encantos.

Conhecia todos os empregados, chamavam-me de prima porque tratavam a minha avó por avó.

Fiz lá muitas campanhas do Banco Alimentar, dias inteiros ao frio e ao calor, a conviver naquele espaço tão horrivel mas, ao mesmo tempo, tão familiar.
Podia ir ao Plus de pijama.

O Plus era uma espécie de Cheers.
Era o nosso Cheers, onde às vezes me apetecia ir só para ouvir o meu nome.

O Senhor Jerónimo Martins, donos dos supermecados da Polónia comprou o Plus.
O Plus Superdesconto vai passar a Pingo Doce.
E com o Plus a fechar, é um bocadinho de mim que morre.


Sei que não sou a única.
Alguns dentre vós também vão sentir falta dos pacotes de bolachas a 30 centimos.

Por isso, cantemos todos:

Making your way in the world today takes everything you've got.
Taking a break from all your worries, sure would help a lot.

Wouldn't you like to get away?

Sometimes you want to go

Where everybody knows your name,
and they're always glad you came.
You wanna be where you can see,
our troubles are all the same
You wanna be where everybody knows
Your name.

You wanna go where people know,
people are all the same,
You wanna go where everybody knows
your name.



domingo, abril 27, 2008
 


Isto é que é uma seca de Post.

Gosto muito do post da Madalena que fica mesmo por baixo deste.
Acho que alguém devia dizer qualquer coisa depois daquilo. Como ninguém pôs nada, ponho eu. Mas só umas coisas soltas, como as que me apetece ler.

No outro dia, há coisa de duas semanas, eu estava a ter um dia muito mau. Não estava bem triste, só assim menos feliz, como disse a Madalena. No fim de tarde desse dia reeniciei a Comunidade de Leitores. No final da sessão, uma das minhas colegas que já conheço há um ano, a Luísa, chamou-me à parte e disse-me uma coisa muito querida, uma coisa que não vos vou dizer, uma coisa que eu estava a precisar de ouvir e nem sabia. Eu sorri e fiquei atrapalhada e entretanto alguém a chamou e interrompeu o momento e eu fiquei aliviada porque não tive de esconder a minha atrapalhação. Quando eu saí da Culturgest, já tinha caído a noite e chovia muito. Apanhei uma grande molha mas senti-me muito reconfortada. dentro do autocarro a voltar para casa.

Emprestaram-me o Persepolis em livro e descobri uma série de partes que ficaram excluídas do filme. Uma dessas partes é a altura em que a mãe da Marjane vem visitá-la à Áustria. Ela fica tão feliz e tão cheia de força com essa visita que mesmo semanas depois de a mãe se ir embora ela ainda fica a viver os restos da felicidade desse curto período da visita. Nunca vivi exilada da minha família, nem estive três anos sem a ver mas acho que percebo este sentimento. Há coisas que me dão alegria, me duram por muito tempo.

Não liguei nenhuma ao álbum dos The National quando saiu e não lhe ligo muito agora. Ouvi o disco duas vezes, das duas vezes que se falou muito deles: quando o disco saiu e quando andou para aí nas listas de melhores do ano (sim, é triste, à falta de melhor eu leio o Y à sexta) e nenhuma das vezes me deu vontade de o ouvir mais. Mas no outro dia, por causa de um post da Madalena, fui ouvir a Start a War e achei que era uma canção muito bonita, muito bonita mesmo.

Fui à Assembleia da República assistir à sessão plenária para debate e aprovação do Tratado de Lisboa. Nas galerias não se ouve nada porque lá em baixo nas bancadas parlamentares ninguém está calado ou quieto. Mesmo assim, por descargo de consciência, deixei-me ficar até ao fim, para assistir à votação. Claro que foi uma má ideia, uma grande seca: deve ter sido o equivalente a ver um jogo de futebol entre duas equipas que não são a minha e o resultado ser um empate a zeros.

Às vezes penso que seria preciso um sismógrafo para detectar as movimentações na minha vida, ou outro instrumento de alta precisão, mas são máquinas caras e eu não me dou verdadeiramente assim tanta importância, sei que não vale a pena.

Às vezes penso que não sei o que vou fazer, que não sei para onde estou a ir - assim, em geral, na vida - e depois lembro-me que também não sei bem o que quero e isso não torna as coisas mais fáceis mas cria-me um problema abstracto maior que me faz esquecer dos problemas concretos mais pequenos.

E depois, o que é verdadeiramente importante (eu pelo menos acho que é) mesmo quando vos irrito e me irritam:







Vai ficar assim mesmo. Mais um post para eu ter vergonha de reler daqui a uns anos.

Uma seca.


quarta-feira, abril 09, 2008
 

Uma seca de post

Segunda à noite, ao retirar o catater, o buraco começa a sangrar sem parar, suja-me a roupa, incomoda-me, fico a sentir-me uma freak, fico mais insegura da minha imagem.

Terça de manhã, confesso que eu estava um pouco, não era bem triste, mas era menos feliz, entro no gabinete da chefe e ela manda-me fechar a porta, diz que tem que ter uma conversa “do pé da orelha” comigo (não é assim a expressão mas pronto, vocês entendem) – o motivo é a minha distracção, os erros do trabalho que tenho cometido, supostamente porque “ando doida”, como um “catavento” por causa de um rapaz que também “anda doido”, “não pára sentado”, etc, etc… meia hora a dizer-me que eu bem tento esconder mas ela bem sabe que andei com este e depois com aquele, e que por isso cometia este e aquele erro.

Enfim, atacou-me a minha conduta sentimental a partir de supostas faltas no meu trabalho. Fiquei atordoada, sem saber como agir perante aquilo tudo.

Terça à hora de almoço, a chefe foi para a ginástica, eu vou ter com o rapaz.

Digo-lhe: é melhor não falares mais comigo ao balcão. Agora não te posso contar o que aconteceu, mas fui chamada ao gabinete da chefe por tua causa.

Terça, durante a tarde – sentia-me constrangida, a resolver problemas de merda, que mexiam com orçamentos e gestão – pensei que me fosse apetecer dizer asneiras e ficasse enraivecida, mas ao invés, fiquei um bocado paralisada mentalmente, a pensar na situação, a querer sair dali.

Ao final da tarde, contei ao rapaz o que se tinha passado – acabei por lhe contar que já tinha andado com dois leitores assíduos (que se tornaram ex-leitores), que nunca tinha contado nada da minha vida pessoal à chefe, e que ela se aproveitou de uma situação (criada por ela e que agora não me apetece contar no blog) para se vingar disso, atacando-me naquilo que ela me pode atacar, enquanto chefe.

O rapaz ficou chateado. Disse:

- Mas eu gosto tanto de trabalhar aqui, será que por causa desta novela sem fundamento vou ter que deixar de vir aqui?

Eu disse-lhe que não, que bastava ele não falar mais comigo e não ligar. Disse-lhe que o problema não era dele.


Ele disse que já estava a ser insuportável os olhares dela e a sensação de estarem a falar nele.


Ele disse ainda que voltaria uns tempos para a Fac de Letras e que depois talvez as coisas se dissipassem.

Eu menti e disse que sim, que se iam dissipar.

E pedi-lhe desculpa, por ter falado com ele sabendo de antemão que ela, a minha chefe, se ia meter.

Sim, porque são muitos os rapazes que falam comigo no balcão (tal como são muitas as raparigas) mas são apenas alguns os escolhidos para a embirrância.

Ele concluiu a conversa, dizendo: vais ter que ser estrategicamente má pra ela.


Terça à noite, preparei as coisas para a escritura, contei ao sérgio o que se tinha passado, saquei o wowee zowee – pensei que era um bom álbum para o dia de hoje e não o tinha de momento.

Quarta de manhã, tratei de alguns assuntos lá para a casa nova, fui à escritura (durante a escritura, a minha bomba começou a vibrar e apitar, tive que levantar a saia e puxar da liga, foi uma peripécia engraçada).

A antiga dona da minha casa é uma mulher nova e feliz, com ar de rapariga apaixonada e estável com o seu marido, também ele agradável e simpático. Penso que deixou boas energias na casa.

Senti-me um bocado feliz, comi uma sopa à pressa e fui trabalhar (sem vontade alguma).

Tinha ponderado acerca de ser estrategicamente má e achei que o melhor era não dar conversa nem sorrir.

Meu dito, meu feito.

Cheguei, reparei que o rapaz se tinha ausentado.

Fez bem, pensei para comigo, eu faria o mesmo, não estaria para aturar isto.

A minha chefe estava muito contente e bem disposta, como aliás fica sempre depois de ter atacado alguém (ela vai rodando nos seus alvos, todas as colegas o sofrem).

Uma das minhas colegas abraçou-me, muito querida, a cumprimentar-me por ser proprietária.

A minha chefe também me deu os parabéns mas fechei a cara quando ela fez isso.

Fiz o meu trabalho, e dei-lhe pouca conversa.

E acho que fui estrategicamente má.

Quarta feira, final da tarde, sentia-me contente por já ter a escritura feita, por ver avançar o processo todo da mudança.

Sentia-me também insegura de mim, em vários aspectos, e acho que a conversa toda da chefe me fez isso. Apanhou-me um nervo, tal como o cateter de segunda à noite, por isso causou mais danos.

Se alguém ainda estiver a ler este post, o que aconteceu não foi nada de especial.

Ela, antes de sair disse:

- Para quem se tornou proprietária, estás pouco feliz, (ela queria insinuar que eu estava triste por causa da historia do rapaz). Sabes, Madalena, nunca me vou esquecer de uma frase tua, a dizeres que só te metias em sarilhos.
E desatou a rir.

Não olhei para ela.

Acho que não a suporto.

Mas não posso fugir para a Fac de Letras e, de qualquer modo, ela nem tem assim tanta importância.

Isto tudo que acabo de contar foi só porque me apeteceu, porque a sinto a cabeça um bocado cheia e sem imaginação para colorir os dias.


I think I need a new heart.


quinta-feira, abril 03, 2008
 
Lembro-me de um dia 3 de Abril quando fomos comer frango assado a uma churrasqueira em Mafra.
Acho que isso aconteceu há 10 anos.

Há 10 anos.


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