{Ninguém é herói para o seu criado de quarto}
segunda-feira, maio 12, 2008
 

Pelas 21h, fiquei assustada quando vi que fazia parte das únicas 3 pessoas que não estavam de preto. Estava de verde – ali até me pareceu fluorescente, mas não era, era verde musgo, um pouco mais claro, por acaso uma cor que gosto muito.

Com o tempo contado e com os nervosos miudinhos que me rodearam todo o dia, nem pensei nisso, nem me lembrei bem o que ia ouvir.

E nessa altura, pelas 21h05, eu pensei: por favor, que isto passe depressa, será que vou ter que falar muito? Vou deixar de ter assunto em 2 minutos, estou inibida e insegura, isto não se assemelha nada a um date. E eu sou tão pouco bonita, tão pouco interessante, e nem sei se quero ser, estou aqui a fazer o quê?

Pelas 21h15, as coisas melhoraram.

Mas pelas 21h45, o vento na cabeça mudou outra vez: gostava do que estava a ouvir, sim senhor, muito bonito, sim senhor, eu gosto destas coisas assim bonitas, boas, muito bem, ainda bem que vim, mas estava assim como que totalmente derrotada – isto aqui ao lado nunca irá dar em nada, e estou a fazer, de certeza absoluta, com as minhas conversas de cariz sexual, figura de tonta. Não queria ser tão transparente, oh meu deus, ajuda-me a mostrar que não estou nem aí para este tipo de coisas.

Às 21h57, lembrei-me de uma coisa importante, lembrei-me de duas coisas importantes, lembrei-me da terceira coisa importante porque, de facto, o que estava a ouvir era muito bonito.

Entre as coisas importantes que me lembrei, estão duas situações recordadas em paralelo:

- a única vez que estive em Paris, quando estava a entrar na cidade, estava frio e chuva, tinha um grupo de 50 pessoas esfomeadas e cansadas ao meu encargo e tive vontade de chorar como uma miúda mimada, quando se vê em dificuldades. Mas depois correu tudo bem e foi bom – para quê chorar? Como eu gostava de ser corajosa e de não ser um poço de mimo… e de saber quando é a altura certa para chorar e quando é altura certa para fechar as mãos com toda a força.

- ao mesmo tempo pensei, que é muito importante do menos fazer mais – do que me parece um problema, arranjar uma solução criativa e fazer com que esse problema tenha uma razão e um sentido para existir e tenha resultado nalguma coisa de boa – do menos fazer mais, do menos fazer mais, parece-me inteligente para a minha vida, para a criatividade.

Sim, meus amigos, eu pensei isto enquanto me sentia, em crescendo, ao som da canção, muito mais segura, muito mais cabeça erguida, muito mais num concerto, muito menos num date, quando me tocaram, pelas 22h09, na coxa, ao ritmo da música.

Minha bicicleta roubada, minha chuva em Julho, meu melhor vestido roto, meu central que não vales nada a marcar golos, minha vitória no Monopólio, meu álbum descoberto através da capa, minha grande canção na RFM, minha mala em cima do meu colo a sentir um murro um tanto violento ao ritmo da música.

1h35: Isto, definitivamente, não é um date.


sábado, maio 03, 2008
 
Uma palavra educada para aquilo que eu sou.



EXT. BEEKMAN THEATER-DAY

(...)

They move into the ticket line, still talking. A billboard next to them reads "INGMAR BERGMAN'S 'FACE TO FACE ,'LIV ULLMANN".

They move over to the ticket counter, people in front of them buying tickets and walking off screen.

ALVY (Gesturing)
H'm, has the picture started yet?

TICKET CLERK
It started two minutes ago.

ALVY (Hitting his hand on the counter)
That's it! Forget it! I-I can't go in.

ANNIE
Two minutes, Alvy.

ALVY (Overlapping Annie)
No, I'm sorry, I can't do it. We-we've blown it already. I-you know, uh, I-I can't go in in the middle.

ANNIE
In the middle?

(Alvy nods his head yes and let's out an exasperated sigh)

We'll only miss the titles. They're in Swedish.

ALVY
You wanna get coffee for two hours or something? We'll go next-

ANNIE
Two hours? No, u-uh, I'm going in. I'm going in.

She moves past the ticket clerk.

ALVY (Waving to Annie)
Go ahead. Good-bye.

Annie moves back to Alvy and takes his arm.

ANNIE
Look, while we're talking we could be inside, you know that?

ALVY (Watching people with tickets move past them)
Hey, can we not stand here and argue in front of everybody, 'cause I get embarrassed.

ANNIE
Alright. All right, all right, so whatta you wanna do?

ALVY
I don't know now. You-you wanna go to another movie?

(Annie nods her head and shrugs her shoulders disgustedly as Alvy, gesturing with his band, looks at her)

So let's go see The Sorrow and the Pity.

ANNIE
Oh, come on, we've seen it. I'm not in the mood to see a four-hour documentary on Nazis.

ALVY
Well, I'm sorry, I-I can't ... I-I-I've gotta see a picture exactly from the start to the finish, 'cause-'cause I'm anal.

ANNIE (Laughing now)
H'h, that's a polite word for what you are.


woody allen, Annie Hall



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